Queiroga é um ministro de cabeça abaixada e dedo erguido

Era uma vez um governo acuado. Após demitir dois médicos experimentados em gestão, o presidente ofereceu o Ministério da Saúde a um General de sua mais elevada confiança, a sua missão seria deixar o vírus circular livremente, o que traria mortos (e daí?) mas também a chamada “imunidade de rebanho”, assim o país sairia da pandemia antes dos outros e o impacto econômico seria minimizado.

A tese defendida pelo governo, antiética e sem lastro científico mostrou-se equivocada e após centenas de milhares de mortos, da paralisação da capacidade produtiva do país, uma CPI passou a ameaçar o presidente. Tem que mudar isso aí! Encontraram alguém que tinha diploma de medicina, alguma projeção em sua especialidade e trânsito dentro da corporação médica.

Nas primeiras entrevistas como ministro, Marcelo Queiroga declarou de peito aberto que os posicionamentos de seu exercício ministerial seriam técnicos.

Não demorou muito para que o ministro ocupasse o palco da Comissão Parlamentar de Inquérito. Lá vimos um homem de fala embargada, ombros retraídos e cabeça baixa que, para a vergonha de Hipócrates e dos seguidores de seus preceitos, declarou que não tinha condições de julgar as políticas de governo que precederam sua presença no Ministério. Ao ser testado pelos Senadores, que procuraram nele algum senso republicano, Marcelo declarou que não tinha condições de censurar o presidente e agradecia a ele por ter lhe concedido a maior oportunidade sua vida. Oportunidade, oportunidade, oportunidade.

Após dar seguidas declarações contra a obrigatoriedade do uso de máscaras, na última semana, Queiroga orientou por ato de ofício a suspensão da vacinação de adolescentes, e ainda apelou às mães para que não vacinassem seus filhos com argumentos pseudocientíficos e inverdades, o Ministro tirou aos poucos e em definitivo a máscara de defensor da ciência.

Agora, Queiroga que faz parte do cortejo do único presidente que não recebeu vacina entre todos os presentes à 76a Assembleia-Geral da ONU, nos EUA, enfrenta com dedo médio erguido, pessoas que protestam contra as políticas do Governo que ele alegou de cabeça baixa que não tinha condições de julgar.

Indiferente ao desastre na condução do enfrentamento da pandemia, também por sua responsabilidade, que já resultou em quase 600 mil mortes confirmadas, Queiroga demonstra não ter limites para defender seu cargo e para retribuir a oportunidade que recebeu de Bolsonaro. Na Assembleia-Geral da ONU, Bolsonaro faz mais um discurso negacionista, que entrará para a história como exemplo vexaminoso, Marcelo Queiroga faz parte da claque que o aplaude.  Oportunidade, oportunidade, oportunidade.